quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Literatura e café

Em sua incessante busca por agradar os clientes, as grandes livrarias têm lançado mão de um artifício bastante sedutor: o bom e velho cafezinho. A possibilidade de se degustar um bom café começa a se tornar um item decisivo na hora de os consumidores irem às compras de livros. Embora não seja um serviço gratuito, as cafeterias que funcionam dentro de megastores andam cada vez mais atraentes por oferecerem um casamento considerado perfeito por muitos consumidores: livros e café.

A relação entre literatura e café data do começo do século XIX, quando a capital francesa era considerada o centro cultural do mundo e as cafeterias, o epicentro da cidade. Na época, escritores, editores e artistas se reuniam em eventos chamados de saraus. A bebida está presente nas três etapas da atividade literária: na produção do texto, na publicação do livro e, é claro, em seu consumo.

Para o editor Luis Gomes, uma boa xícara de café é a perfeita companhia para um bom livro. Ele também ressalta o papel coadjuvante da bebida no trabalho de alguns escritores. “Tenho um autor que, antes de escrever, enche um copo com café e água gelada. Toma tudo de uma vez só, como um remédio para aumentar a concentração.” Já ele próprio afirma possuir uma relação próxima com a bebida. “Para mim é uma bebida artesanal, delicada.” Em recente visita às cidades históricas de Minas Gerais, o editor fez várias pausas para saborear um legítimo café mineiro. E faz uma revelação que soa como um conselho: “Se o café é de boa qualidade, não coloco açúcar”.

O café, tal qual a literatura, parece mesmo ter uma intensa relação com as atividades artesanais, mas apesar dessa aparente vocação bucólica, a bebida virou artigo básico nas grandes metrópoles. São Paulo, a maior cidade do país, com 11 milhões de habitantes, possui cafeterias para todos os gostos. Desde os tradicionais botecos, onde se pode saborear um café no copo por 0.50 centavos, às grandes cafeterias, como a Starbucks, onde degustar um bom café pode custar até 14 reais. A evolução econômica do consumo de café no Brasil coincide com o crescimento da compra de livros no país, como lembra o jornalista e crítico literário Felipe Minor: “Talvez as pessoas estejam comprando mais livros porque estão tomando mais café. Ou talvez seja o contrário. Nunca se sabe o que começa primeiro. O fato é que há, sim, uma relação direta entre consumo de café e consumo de livros”, argumenta Minor, enquanto prova mais um pouco de seu encorpado café caseiro feito por ele, em casa. Entre um e outro gole, ele relembra as tradições culturais do café e disserta, confortavelmente, sobre o tema: “Eram, e ainda são, muito comuns na França, as atividades literárias em cafés. O estabelecimento acaba sendo o espaço de encontro de escritores, principalmente poetas, preocupados em trocar impressões sobre seus textos ou projetos estéticos. A bebida em si é até irrelevante. O café é uma espécie de chimarrão ocidental. Bebe-se pelo ato em torno da bebida. É um lubrificante social importante.”


Este post foi produzido pelo escritor e editor Maurício Azevedo, autor de O quarto de Judas (Ed. Oxímoro) e Precário (Ed. Publit).


No link abaixo, você pode ouvir a conversa de Maurício Azevedo com o editor da Sulina, Luis Gomes.







Café sem açúcar: bons livros merecem ser acompanhados por um bom café






Felipe Minor: ler e beber café são duas atividades similares